terça-feira, 7 de outubro de 2014

Pesquisas eleitorais - parte IV

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Terminado o 1o turno das eleições de 2014, faz-se necessário fazer um levantamento sobre tudo o que foi falado e o que aconteceu. No que diz respeito a este blog, é importante entender ou tentar entender o que ocorreu sob o prisma estatístico. 

Como eu já tinha alertado recentemente aqui, existe uma distância considerável entre a intenção de votar em um candidato e o ato de votar propriamente dito. No caso de países com eleitorado volátil como o nosso, esse ponto merece cuidado ainda mais especial. Levantamento recente mostra que as diferenças entre intenção e voto nas últimas eleições brasileiras não devem ser desconsideradas e podem ser significativas. Isso ocorreu agora com discrepâncias importantes entre intenções de votos e votos efetivamente auferidos para vários candidatos. O caso mais vistoso foi o do candidato a presidente Aécio Neves. Na véspera da eleição as pesquisas de intenção indicavam percentagens de intenção de votos muito inferiores ao total auferido por esse candidato na eleição. 

Também parece ter surpreendido a muitos que as tendências de alta desse candidato e de queda da candidata Marina Silva tivessem sido preservadas para o resultado da eleição. Alguns estatísticos parecem achar que isso não pode ser trazido para as pesquisas de opinião, contrariando mais de um século de avanços em Séries Temporais e a prática recorrente em pesquisas realizadas em países mais desenvolvidos que o nosso. Esse ponto também já havia sido discutido aqui, na parte II dessa série de postagens sobre pesquisas eleitorais. 

Voltando ao tema da substancial sub-estimação de votos de um dado candidato, existem muitas possíveis explicações sobre o assunto. Algumas delas tem base estatística e são ligadas à construção da amostra. Esse tema será abordado na próxima postagem sobre esse assunto. Outras não são estatísticas e estão ligadas a uma dificuldade do eleitor explicitar suas preferências para um entrevistador, dificuldade que desaparece na privacidade da urna eleitoral. Usualmente, essas dificuldades estão associadas a temas polêmicos ou controversos. Mas esse não parece ter sido o caso aqui. Outra explicação é uma imensa mudança de opinião nas últimas horas mas isso também não parece ser compatível com o padrão apresentado nas votações para os outros candidatos do mesmo partido aos outros níveis. 

Juntando um pouco de cada um dessas possíveis explicações com as dificuldades já aludidas de implementação bem sucedida de esquemas amostrais adequados pode dar uma pista sobre o ocorrido. O fato que essa questão trouxe novamente à luz a relevância do trabalho do estatístico e pode ser aproveitada para melhorar ainda mais as práticas dessa área. Afinal, o 2o turno das eleições ocorre já já, em menos de 3 semanas.

2 comentários:

  1. Vou adicionar mais um item que pode influenciar na diferença entre pesquisas eleitorais e resultado da eleição. O absenteísmo. A quantidade de pessoas que se abstêm em eleições é enorme, nesse ano foram quase 20%, ou seja quase 28 milhões de pessoas. E o perfil de voto das pessoas não é o mesmo que daqueles que votaram, e ignorar isso em uma pesquisa, também pode gerar distorções significativas.

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  2. Leo, muito bem lembrado. Existem trabalhos que visam incorporar a opinião ou voto dos indecisos de acordo com suas características (sexo, idade, nível socio-economico) e assim, preencher essas lacunas. A simples extrapolação como se eles fossem iguais ao restante da população pode gerar distorções importantes.

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